sábado, 28 de junho de 2008

LIMITES NO EXERCÍCIO DA PROFISSÃO*

(Francisco Carlos de Mattos)¹
Os nossos limites não são e nem podem ser dimensionados pelo tamanho de nossas passadas, mas podem e devem ir além de nossas volições e dos muitos “produtos impostos” (Certeau, 1994) a nós.
Para a reflexão sobre os limites no exercício da profissão de Orientador Educacional ou de qualquer outra na atual conjuntura político-sócio-econômica brasileira, não se pode deixar de buscar fundamentos nos primórdios da formação acadêmica desse profissional.
As bases da formação - de qualquer formação e incluindo nessa perspectiva a que vem de berço-, podem ditar o ritmo a ser implementado ao longo da vida das pessoas.
Não é o propósito desse texto enveredar em juízos profundos sobre a economia brasileira; entretanto, também não se pode prescindir desse fator enquanto elemento fundante das incontáveis desigualdades que pairam sobre nossas vidas e das inúmeras violências a que somos submetidos por conta desse problema. Sim, a economia (salários, poder de compra, lazer que não temos) que sempre foi vista e entendida como solução, agora é posta como problema ou desencadeadora de problemas. Todos. Os de nossa vida pessoal, social, profissional.
Da 4ª e maior dimensão representada no desenho abaixo, figura a que congrega todas as outras e que influencia e é influenciada por elas. Os elementos-fenômenos que a estruturam vêm como setas em sua direção. Essas, ora dão mais firmeza em seus alicerces, outras vezes conseguem fragilizá-la, fazendo o mesmo com as outras dimensões. Na outra ponta desse novelo estamos nós, firmes como uma rocha ou frágeis como uma pluma, como uma bolha de sabão. Assim também se configuram a educação e a escola e todos que delas fazem parte.
Falar dos e sobre os limites do exercício da profissão do Orientador Educacional, é poder transitar num ínfimo espaço-tempo subjetivo do céu ao inferno e tentar desenvolver com os “gestores” dessas dimensões o discurso mediador, que é uma peculiaridade do OE. Aqui nesse espaço mundano, procuramos desenvolver a mesma intercessão junto aos alunos, pais, professores, gestores educacionais e todos os outros profissionais da escola, assim como a comunidade, para tentar ajudar os que precisam de uma leitura mais apurada da sociedade, para conseguir se desvencilhar das armadilhas impostas aos incautos ou para, segundo Certeau (1994, 2ª orelha), aguçar a “criatividade das pessoas ordinárias. Uma criatividade oculta num emaranhado de astúcias silenciosas e sutis, eficazes, pelas quais cada um inventa para si mesmo uma ´maneira própria` de caminhar pela floresta dos produtos impostos”.
A Orientação Educacional é uma profissão de exercício de limites, e, por isso, não se pode ficar querendo só focar os limites do exercício da profissão. Entendamos então que os limites do exercício, são os exercícios dos limites; porquanto, não se pode limitar o exercício da profissão, pois a cada dia, ante o espectro da economia assustando a tudo e a todos e transformando a sociedade numa estranha caixinha de surpresas, estaremos exercitando limites... vários... e sempre diferentes.





Referência bibliográfica:
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. artes de fazer. [tradução de Ephraim Ferreira Alves]. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
· Texto especialmente produzido para a oficina com o mesmo título-tema a ser desenvolvida no IV ENCONTRO DE ORIENTADORES EDUCACIONAIS, promovido pela Divisão de Orientação Educacional, da SEME – Cabo Frio (20 de junho de 2008).
. Orientador Educacional do Município de Cabo Frio.

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