domingo, 4 de maio de 2008

Fracasso escolar: um nó difícil de desatar - (20/02/08)

Pesquisa e Sociedade (UERJ na mídia )
Fracasso escolar: um nó difícil de desatar – (22/02/2008)
Alguns obstáculos que entravam a educação no Brasil vêm sendo superados nos últimos anos, como a questão do analfabetismo e a universalização do ensino. No entanto, até hoje, não se descobriu um meio eficaz para fazer com que um grande número de alunos do ensino fundamental dos colégios públicos progrida nos bancos escolares.
Com os objetivos de conhecer essa realidade e propor alternativas para superá-la, o Núcleo de Etnografia em Educação (NetEDU), do Programa de Pós-graduação em Educação da Faculdade de Educação da UERJ, desenvolve, desde 2005, a pesquisa “Imagens Etnográficas da Inclusão Escolar: o fracasso escolar na perspectiva do aluno”. Previsto para terminar este ano, o trabalho conta com recursos da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do estado do Rio de Janeiro (Faperj), através do programa Prociência.
Uma equipe de 35 pesquisadores coletou dados, durante seis meses do ano passado, em um Centro Integrado de Educação Permanente (Ciep) que atende basicamente à comunidade da Rocinha, uma das maiores favelas da América Latina, na zona sul da cidade do Rio de Janeiro. De dia, as suas salas recebem, em horário integral, classes de alfabetização e das quatro primeiras séries do ensino fundamental; à noite, é a vez das turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA).
A professora Carmen Lúcia Guimarães de Mattos, coordenadora do NetEDU e da pesquisa, disse que o trabalho da equipe busca dar voz aos alunos para conhecer o que eles pensam dos problemas enfrentados na escola. “O fracasso escolar tem sido alvo de pesquisas nas três últimas décadas, mas elas sempre se valeram de teorias deterministas, preconceituosas, limitadas, como as do déficit cognitivo e da carência cultural. Elas ignoraram que os alunos também participam da construção da sua realidade”.
Salas de aula reveladas
Segundo a professora, a abordagem etnográfica permite, além de desvelar o que realmente acontece nas salas de aula, conhecer os processos de produção do conhecimento e teorizar sobre eles, a partir da visão daqueles que são o seu alvo. “O foco é, predominantemente, nos contextos de risco sócio-educacional. Por isso, encaixa-se de maneira transparente e significativa tanto nos estudos sobre o fracasso escolar, quanto naqueles relacionados à exclusão, inclusão, cultura escolar e alternativas pedagógicas, entre outros”, disse Carmen.
Quando a pesquisa começou, eram adotadas políticas de regularização do fluxo de alunos e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) comunicava, em 2006, que a defasagem idade-série, isto é, a freqüência à escola fora da idade e nível de escolaridade recomendados, consistia em um dos mais graves problemas do sistema educacional do país. No Rio de Janeiro, a defasagem chegava ao patamar de 40,5% na 8ª série.
A constatação do IBGE foi reforçada pelos dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) daquele ano – o pior desempenho dos estudantes brasileiros em todas as séries, na década. E também pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), realizado a cada três anos entre estudantes de países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e convidados: em 2003, o Brasil ficou em último lugar em matemática, penúltimo em ciências e foi o quarto pior em leitura.
Falta de profissionais qualificados
Para Carmen, as respostas para o fracasso escolar não são simples. Elas requerem um profundo entendimento sobre a maneira complexa como ele se constrói. Apesar de a pesquisa estar em andamento, algumas das conclusões preliminares apontam, entre outros motivos para a persistência do fracasso escolar, a descontinuidade das políticas educacionais e a falta de profissionais qualificados, experientes e interessados, para cuidar de alunos com dificuldades de aprendizagem.
Outro ponto destacado pela coordenadora, que já esteve à frente de duas outras pesquisas sobre o tema no mesmo Ciep, é o nível de consciência crítica dos alunos. “Apesar de todo o estigma que carregam, para eles a escola significa a oportunidade de vencer na vida, ter aceitação na sociedade, manter-se vivos”, disse a professora, complementando que os ditos ‘fracassados’ se caracterizam por uma baixa auto-estima.
Segundo Carmen, uma das maneiras de reverter esse quadro é uma prática educacional culturalmente sensível à realidade do aluno. “A magnitude real do fracasso escolar pode ser avaliada a partir de outra das conclusões do trabalho: aos 20 anos, esses jovens podem não ter mais escolhas na vida. Isso porque, dos 49 participantes da primeira pesquisa, 19 morreram vítimas de crimes violentos. Portanto, um dos pontos mais generalizáveis nesse trabalho é que o fracasso escolar também mata”.
Disponível em: http://www.uerj.br/modulos/kernel/index.php?pagina=708&cod_noticia=1602 . Acesso em 4 mai. 08.

Um comentário:

Francisco Mattos disse...

Parece-me que o meu povo, composto de mais três companheiro(a)s Orientadores Educacionais, está um tanto quanto acanhado em mexer nesse espaço blogueiro. Eles têm os códigos de acesso e até agora não me deram nenhum retorno aos posts feitos até então. A Érika é que já se manifestou.
Estou, ansiosamente, aguardando as intervenções de Nélio e Wellington.
Francisco Mattos